quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Drama de brasileiro vai parar nas mãos de Dilma

Senado pede para presidente interceder em favor de brasileiro preso há quase três anos sem julgamento nos EUA


Arquivo Pessoal
28_Ricardo Azevedo Souza Costa_ARQUIVO PESSOAL
Vestido com a “amarelinha”, o brasileiro Ricardo Azevedo aparece com os três filhos


Em tempos de “faxina” contra a corrupção, a terceira mulher mais poderosa do mundo ganhou um abacaxi diplomático para descascar. No início deste mês, por meio do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, o Senado Federal fez um apelo para a presidente Dilma Rousseff (PT) intervir em um caso delicado e com suspeita de xenofobia.
 
O comunicado oficial levado à presidente e assinado pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP) revela um controverso imbróglio jurídico envolvendo a Justiça norte-americana e o ex-modelo brasileiro Ricardo Azevedo Souza Costa, de 39 anos. Ele está preso há dois anos e oito meses numa penitenciária do Arizona, um dos estados mais conservadores dos Estados Unidos, sem ter sido julgado.
 
Com uma fiança estipulada inicialmente em R$ 120 milhões em dinheiro vivo (a maior que se tem notícia na história do judiciário americano), Ricardo é acusado pela ex-mulher, a norte-americana Angela Denise Martin, de 49 anos, de ter molestado e abusado sexualmente dos próprios filhos. A denúncia, contudo, foi feita um ano depois da separação do casal, em meio a um processo de divórcio litigioso. Para parentes e amigos, Ricardo seria vítima de xenofobia.

No pedido para a presidente Dilma, Suplicy conta que a Justiça americana já adiou o julgamento de Ricardo por diversas ocasiões. De acordo com o próprio brasileiro, foram quatro adiamentos.

O senador petista sugeriu que Dilma aproveite a viagem que fará aos Estados Unidos no próximo mês para tratar publicamente do caso. Em setembro, ela vai se encontrar com o presidente Barack Obama para participar da abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York.
 
“Tomei conhecimento do caso pelos familiares do Ricardo. Desde então temos tentado ajudar. A última tentativa foi o pedido endereçado ao ministro Patriota. Mencionei isso no ofício (pedido de ajuda da presidente Dilma), mas até o momento não obtive resposta do ministro”, declarou o senador ao Hoje em Dia na última sexta-feira.

A prisão do brasileiro foi decretada com base em um laudo emitido por uma psicóloga que, dias depois, perdeu a licença para trabalhar sob a acusação de fraude.
Ricardo sempre negou a acusação e sustenta que só foi denunciado porque a ex-mulher não se conformou com o fim do casamento.

Depois de vários pedidos de revisão para marcar o julgamento e rever a fiança, a Justiça do Arizona tomou duas decisões na última semana. Modificou o valor da fiança, que baixou de R$ 120 milhões para R$ 3,2 milhões. E, finalmente marcou a data do início do julgamento para 30 de novembro deste ano.

Apesar da queda abrupta do valor da fiança, a família do brasileiro não pode assumir o débito milionário. As duas fianças foram estipuladas pela juíza Tina R. Ainley, da Corte Superior do Arizona.

Ricardo, por sua vez, tem a alternativa de assinar um documento de confissão e ser imediatamente liberado para responder em liberdade. Nesse caso, no entanto, ele seria deportado dos Estados Unidos e, provavelmente, nunca mais poderia ver seus filhos. Enquanto não é colocado um ponto final no drama, os pais do brasileiro tentam mobilizar autoridades. Ao candidato derrotado à presidência em 2008, senador John McCain, foi entregue recentemente um abaixo-assinado pedindo a libertação do brasileiro.

Pressão para confessar
 
Desde novembro do ano passado, o brasileiro Ricardo Azevedo está trancafiado em uma solitária na prisão de Yavapai, no Centro Oeste do Arizona.

Ele foi removido para o cárcere individual porque ousou levar à direção da prisão uma reclamação de maus hábitos de higiene contra o antigo companheiro de cela.
Mesmo com toda precariedade, Ricardo não cogita fazer acordo com a Justiça estadual do Arizona. Se assinar, ele fica livre do inferno da prisão, é deportado para o Brasil e a ação judicial é arquivada.

É assim que funciona a lei no estado Arizona. Incitado a confessar com frequência, o brasileiro já devolveu o documento em branco pelo menos 25 vezes. “Eles querem que ele confesse até para limpar a barra do promotor e da juíza que estão acompanhando o caso. Alguma coisa vai ter que acontecer porque o processo do Ricardo é repleto de falhas inacreditáveis”, desabafou Tita Azevedo Souza Costa, mãe do brasileiro, em entrevista ao Hoje em Dia.

Tita diz que a comunicação de Ricardo com a família se dá diariamente numa média de 15 minutos por dia por meio de uma ligação a cobrar pela internet com o auxílio do Skype. “Apesar de tudo, o Ricardo está muito sereno. Quem conversa com ele tem a impressão de que ele está deitado assistindo televisão e comendo batatinha frita”, relatou.Ela conta que as regras da prisão norte-americana são extremamente rígidas. Por dia, o brasileiro tem o direito de sair da cela por apenas 30 minutos.

Mesmo assim, não fica livre para contemplar o céu, já que os banhos de sol estão restritos a uma vez a cada 30 dias. “Ele não reclama de nada. A sua rotina é ler livros e desenhar”, disse. A última vez que Tita viu o filho pessoalmente foi há um ano. “No dia do julgamento estaremos todos juntos de novo”, acredita.

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